20-12-2022
Veganices, uma mercearia vegan, fechou portas na quinta-feira, dia 15, para dar luz a um novo projeto «de e para humanos», em Tavira.
Escola do Propósito Sagrado para Humanidade é o futuro projeto de Sandra Catarino, de 38 anos, em que se vai falar do cuidado do planeta de uma forma muito simples e autêntica, onde toda a gente é capaz de fazer, e que tem como objetivo reeducar pessoas como cuidadores do ambiente e da Terra.
Antes da escola, teve a presença de uma projeto com muita luta para o conquistar e manter de pé.
A mercearia Veganices foi um sonho tornado realidade, que se imaginava um espaço maior e que tinha o objetivo, por exemplo, de trabalhar ao nível da criatividade da reciclagem do plástico e de outros materiais. A abertura aconteceu quando a mãe de Sandra decidiu entrar no veganismo e alinhou com a filha no projeto de partilhar a filosofia de vida (veganismo) e para sair do emprego que já não lhe fazia sentido.
A mãe encontrou o cantinho e foi possível fazer a partilha durante 5 anos.
A reação da cidade não foi a melhor.
«O que nós queríamos muito era abraçar a cidade, os locais e as pessoas de cá. Mas as pessoas têm outras prioridades, também não compreendem muito o que é esta filosofia do veganismo. Não compreendem que um repolho, uma alface e um tomate é vegan, é de origem de planta».
O objetivo do projeto não por "água a baixo" por completo.
«Conseguiu-se desbravar um bocadinho estas mentalidades, e partilhar. Não fazendo a diferença que se calhar era preciso fazer, mas ficou a semente plantada, eu acho», partilhou Sandra, responsável pela Veganices.
Em Tavira, havia pessoas que passavam pelo espaço e admiravam-se de nunca ter visto o espaço. Parte deste facto foi «pelas pessoas ainda serem consumistas do momento e não pensarem num produto comprado a longo prazo, pois nesta loja era se vendido produtos à escala de massa, qualquer pessoa acharia caro os produtos reutilizáveis, mas num supermercado comprariam automaticamente um descartável».
«A educação do consumidor é um consumismo rápido, furaz e económico, assim não conseguimos fazer muita diferença. Lembro-me que tivemos uma grande resistência em vender garrafas de plástico, temos a de Monchique porque é plástico reciclado e reciclável. Tivemos que aderir a ela.», afirmou Sandra.
Adesão que foi resistida com muito custo, pois tinham a opção de encher as próprias garrafas, ou seja, água a granel. Surgiu mesmo antes da opção que existe no Pingo Doce.
Ao longo destes anos houve vários momentos marcantes e cómicos.
A mentora recorda emocionada que conheceu um menino que fez greve de fome para que os pais reconhecessem a sua entrada no veganismo, relembra de que muitas pessoas entravam na loja admiradas com o que viam, mas depois não levavam nada, e chegou a fazer um “workshop” de duas horas a explicar os produtos a granel para uma senhora que tinha problemas no estômago, e toda a conversa acabou em dizer que iria ao supermercado comprar.
Cada pessoa que entrou, nunca mais saiu, ao fazer parte do ciclo de amizades da mentora, que as leva para a «vida, que ficam no coração, na alma e que transporta para as vidas seguintes».
Um negócio que não teve retorno financeiro, que era sustentado por um segundo trabalho, que condicionava horários e ao nível de contas, mas que recompensou por toda a experiência, todas as amizades, e por toda a paixão que foi colocada pelo planeta Terra.
Para colocar em prática o seu projeto, teve a sua história.
Começou o veganismo de forma natural. A sua mãe teve uma gravidez com uma alimentação à base de plantas, e quando Sandra nasceu teve uma alimentação normal como qualquer criança, omnívora, mas fez várias alergias e intolerâncias principalmente à proteína animal.
Coincidência, ou não, ainda não tinha uma alimentação totalmente vegan. Aos 8 anos apaixonou-se, uma paixão platônica durante 8 anos, esse rapaz era vegetariano e a partir desse momento fez-lhe sentido ser vegetariana.
Há 7 anos, quando foi para a ilha do Príncipe, surgiu o veganismo, a ideia de explorar a alimentação mais saudável e um despertar de partilha. Nessa altura apareceu o projeto “Príncipe Vegano do Mato para o Prato” e começou a fazer cursos de chefe de cozinha vegana e crudívora.
Com toda a sua história, Sandra refere que o impossível é uma limitação, por isso nada é impossível. Assim, deixou um desafio.
«Gostava de desafiar as pessoas a experimentarem, começarem com um dia de semana lá em casa (sem carne) e pensarem um bocadinho. Perguntarem aos avós, aos tios, depende das idades (sobre o antigamente), na altura não se comia carne e peixe todos os dias, comia-se em festas, em celebrações. Atualmente parece que só existe essas duas proteínas, a de carne e peixe. (…) Acho que podem só experimentar, que vão se surpreender e vão descobrir novos sabores e ao cozinhar vão perceber que é mais barato do que pensam».
Um negócio que não teve retorno financeiro, que era sustentado por um segundo trabalho, com a maior ajuda da mãe que agora abandonou o projeto para usufruir da sua reforma, loja que condicionava horários e a nível de contas, que teve à beira de fechar há mais de um ano e que ficou aberto até aqui. Um espaço que, no fundo, alegrou a quem ficou marcado, desde a comida, doces, por muitos considerado com o melhor pastel de nata vegan, ou produtos diferentes do que se vê em supermercado, recompensou por toda a experiência, todas as amizades, e por toda a paixão que foi colocada pelo planeta Terra.
Encerra-se um capítulo de esforço, memórias que se criou no número 100. Abre-se uma nova porta de vontade de focar nas coisas que realmente se gosta e passar a mensagem que precisa ser partilhada.
O novo projeto já está presente nas redes sociais da antiga Veganices.
Texto|Fotos: Cátia Rodrigues| Estrela do Amanhecer