Rias comemorou 15 anos e pretende chegar a mais pessoas

26-11-2024


O Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, ou como é conhecido por Rias, comemorou este ano 15 anos e continua com o objetivo de tratar dos animais selvagens que estão feridos, doentes ou órfãos, ou mesmo os que são entregues no posto da GNR pelos cidadãos.

A Associação Aldeia, que tem sede em Vimioso há 20 anos, nasceu da vontade de algumas pessoas de conservar algumas tradições rurais, no nordeste transmontano. Daqui partiu a necessidade, há 15 anos, de criar um espaço do género no Algarve. Conseguiram, ao criar o Rias.

O Rias não trata cães, gatos, animais domésticos, nem pombos (animais que não são considerados selvagens), mas sim trata de animais que vivem na natureza. E o principal objetivo acaba por devolvê-los com sucesso à natureza, momento esse que acaba por ser uma grande motivação diária para Soraia, coordenadora do Rias.

«Todos os dias aqui são todos muito diferentes. (…) Mas a equipa une-se, trabalha com esforço, porque é o objetivo. Há sempre ali a motivação. Tem sempre a motivação para tratar de um animal», diz Soraia, uma das coordenadoras do Rias.

Afinal como age a equipa até ao momento da libertação? Primeiro de tudo, chega até à equipa um animal ferido, ou porque alguém o encontrou na rua, ou que foi entregue no posto da GNR. É logo visto pela equipa veterinária para perceber o motivo de estar ali e para determinar os próximos passos. Por exemplo, se for ferida ou se precisa de ligadura, de pôr uma tala, de alimentação, ou seja, perceber o estado físico do animal e adequar todos os tratamentos e medicações para o caso. Nestes casos graves, o animal vai para o internamento e são tratados pela equipa clínica.

Assim que ganhar o peso estável, se consegue comer sozinho ou se precisa mais espaço para se movimentar, vai para uma instalação intermédia, em que já se podem ambientar novamente ao sol, à chuva e ao frio.

O próximo passo é passar para a instalação exterior, onde já estarão espécies diferentes umas das outras. Uma grande área para se esconderem e viverem num enriquecimento ambiental, tendo em conta sempre de se assimilar ao seu habitat natural. Pelo meio terá a intervenção veterinária e da equipa de reabilitação. Quando percebem que o animal está com um comportamento e o peso adequados, está pronto para ser libertado na natureza.

No total das contas, o Centro de Recuperação tem recebido cerca de 2,500 animais vivos e mortos por ano, mais de metade vivos, e já foram libertados cerca de 11 mil animais ao longo destes anos. Atualmente, a equipa é constituída por sete pessoas e ainda assim não chega, precisando de mais voluntários ou mesmo estagiários para ajudar no trabalho diário.

Para quem quiser participar basta mandar um email para o rias.aldeia@gmail.com ou visitar o site do Rias, e a equipa dá todas as informações necessárias.

Para ajudar o Rias, o Aeroporto de Faro e o Fundo Ambiental são os principais financiadores. E há os apoios dos municípios tais como o de Faro, Olhão, Portimão, Vila Do Bispo e São Brás de Alportel. Mas claro que estes financiamentos não chegam a ser suficientes. Assim sendo, o Centro procura sempre donativos monetários, de géneros ou apadrinhamentos dos animais. O apadrinhamento é alguém que pode acompanhar o animal e até pode libertá-lo no final, se assim o desejar.

Para além dos financiamentos, este Centro está a precisar de detergentes da loiça, lixívia, detergentes do chão, sacos do lixo, luvas de limpeza de borracha, produtos de limpeza, papel higiênico, rolo de cozinha e comida húmida de cão. Toda a ajuda é bem-vinda para terem melhores condições para tratar os animais. Além disso, é necessário comida e medicação.

Soraia sempre quis trabalhar num centro de recuperação de animais selvagens desde que estudou biologia, então luta todos os dias para contribuir para a conservação e para ajudar os animais que tem um papel importante na conservação da biodiversidade.

«Não me custa trabalhar. É uma grande alegria e às vezes sinto falta quando estou fora muito tempo, porque é algo que me encanta mesmo muito. E a equipa luta muito por fazer a diferença», afirma Soraia, umas das coordenadoras do Rias.

Com todo o trabalho que tem dito e estes dois anos que tem ficado no Centro, a coordenadora conclui ao Estrela Do Amanhecer que não sabe quanto tempo vai ficar, mas não há nenhum arrependimento em ter ficado no Rias e deixar Braga, a sua cidade Natal.  

Desta forma, a coordenadora incentiva os jovens a partir dos 18 anos a juntarem-se à equipa.

«Se querem conhecer um pouco da realidade de um centro de recuperação, porque nós sabemos que muita gente tem interesse em saber como é que funciona um centro (…) Portanto, apelar para isso»

Ao longo dos anos de trabalho, recorda-se de um dos momentos marcantes que foi a libertação do primeiro papagaio do mar na história do Rias e os piores momentos são quando fazem de tudo, mas os animais não resistem.

Vê-se que o Rias tem evoluído e «aberto horizontes» aos longo destes 15 anos, com muitas mudanças na equipa.

O objetivo da nova equipa é que «o Rias cresça, que tenha maior visibilidade, que consiga chegar a mais pessoas, que consiga chegar a mais entidades, fazer outros projetos e outras atividades que normalmente ela não fazia.  Portanto, ter aqui uma equipa que consiga abrir portas ao Rias, não só focar-se só na reabilitação».

Recorde-se que o Centro faz sensibilização ambiental nas escolas, porque vão às escolas, as escolas vão ao espaço, então têm um papel muito ativo, e trabalham muito com os municípios para trabalhar com as escolas. A equipa gostava de fazer mais projetos de conservação, cursos, formações, workshops e conseguem envolver mais pessoas noutras dinâmicas. Este Centro chegou a realizar um curso de introdução à medicina veterinária em forma selvagem. O público-alvo é veterinários e biólogos.  Também fazem cursos de necropsia, cursos intensivos de recuperação, campanhas de angariação, apelam a campanhas nas redes sociais e chegam a realizar campanhas de apadrinhamento, sobretudo no Natal, para apelar aos apadrinhamentos, e é uma forma de oferecer um presente diferente a alguém. Além disso, também estão presentes em algumas feiras, tais como a Feira do Associativismo em Olhão e outras feiras ligadas ao ambiente e à sustentabilidade.

Por fim, ainda são chamados para fazer eventos de libertação de animais em determinados eventos.

Um dos objetivos deste Centro, também, é conseguirem mais financiamentos, algo que seja a longo prazo, porque há iniciativas para apoiar, mas a curto prazo acabam aí e falta na mesma.

«Nós não conseguimos dizer quanto tempo podemos ainda subsistir.  É verdade que há sempre coisas a surgir, mas a longo prazo não conseguimos fazer um planeamento. Isso é complicado de gerir assim», revela Soraia.

«Notamos que há crianças cada vez mais sensibilizadas e aí nós estamos a ensinar os jovens, os novinhos.  Há muitas turmas a virem aqui repetidamente, a fazer atividades repetidas. As mesmas turmas, os mesmos miúdos connosco, porque sabemos que já toca», completa.

Soraia sente que não conseguem chegar a muitas pessoas ainda porque a vida está muito difícil e há quem custe a dar alguma coisa, apesar de haver muita sensibilização.

Normalmente, o Rias recebe vários voluntários ao longo do ano, e continua a apelar para virem mais, sobretudo no verão, época de maior procura.

Vamos ajudar o Rias?

Pode contribuir monetariamente para o IBAN PT50 0035 0555 0004 8770 ou pelo MbWay 927659313. Toda a ajuda é valorizada.

Estrela Do Amanhecer