Já pensou em reciclar com elegância? Adelaide cria brincos com cápsulas de café

9-1-2025


Já pensou em comprar bijuteria feitas a partir de cápsulas de café? Adelaide Pardal, de 60 anos, dedica-se, desde nova, a fazer este tipo de bijuteria e vende em mercadinhos pela zona do concelho de Loulé e arredores.

Foi desde nova que sempre gostou de fazer a sua própria bijuteria com missangas, bolas e contas, e como tal quis sempre aprender essa arte. Com essa curiosidade, ia sempre ter com um amigo que vendia no mercadinho, em Faro. Ele trabalhava com os arames, os alicates e o ferro. Adelaide sempre gostou da técnica de «andar sempre de alicate». Isto acabou por servir de inspiração para avançar com o seu negócio, mas produtos feitos com cápsulas de café, além de ter o seu trabalho fixo no centro de saúde como assistente técnica.

E como é que surgiu a ideia das cápsulas?  Através de uma visita à feira em São Brás de Alportel, em que uma senhora já fazia produtos com esse material, mas peças grandes, como candeeiros e tabuleiros. Como Adelaide já estava ligada às jóias, fez a ligação da arte que já fazia para a família, para si e para os amigos, com o novo material. Assim fez. Misturou missangas e fios com cápsulas de café.

Começou por mostrar às suas colegas do trabalho as suas obras de arte, «começaram a dizer que era giro», aqui deu-lhe coragem para se inscrever nos mercadinhos de Loulé. Conseguiu entrar graças à professora Anabela, amiga de uma utente que lhe ajudou a mostrar os seus trabalhos na Câmara Municipal de Loulé.

No mesmo dia que mandou os seus trabalhos por email, a autarquia ligou-lhe para os ver pessoalmente. Em Março de 2017 começou a fazer mercadinhos.

Já antes, em 2016, foi o ano em que se apresentou no Hotel Monte da Ria, na Quinta do Lago, sendo essa a primeira participação nas feiras.

«Os estrangeiros gostaram, vendi algumas coisas logo, mas os produtos eram todos muito relativos e básicos», recorda-se Adelaide.

Recorda-se, ainda, que levou poucas peças, eram expositores rudimentares, placas de esferovite, mas conseguiu vender alguns brincos e até hoje lembra-se da primeira pessoa a comprar-lhe, mantendo o contacto com a pessoa.

Adelaide explicou ao Estrela Do Amanhecer que tem vindo a participar nos mercadinhos de Loulé, de Salir, Cacela, de Quarteira e em Faro, na Associação de Músicos, e considera que, de ano para ano, tem vindo a ter um balanço positivo nas suas vendas, visto que quem lhe compra os produtos volta no ano a seguir porque viu que a qualidade era boa e que não se desgastavam com facilidade.

Em Loulé, nos mercadinhos temáticos fazem-se de Março a Junho e depois de Outubro a Novembro de três em três semanas nos mercadinhos temáticos e em Quarteira, no Natal e na Páscoa estou em Cacela nos mercadinhos que fazem quatro vezes por ano e vai «estando em alguns que vão aparecendo por aí».

O seu objetivo no futuro é ter uma página online em que os clientes lhe possam encomendar mais facilmente e ter mais tempo para fazer os seus produtos e quer montar uma loja física.

Nesta altura, de Janeiro a Março, é para fazer limpezas aos quatro cestos de cápsulas que tem.

Para vermos o resultado das bijuterias, tudo tem um processo por detrás.

 Adelaide começa por retirar o café dentro das cápsulas, coloca-as num balde com água quente e detergente da loiça, lava-as e seca durante um ou dois dias ao sol. Mete dentro de caixas de fruta para o ar passar mais facilmente e quando tem tempo começa a limpar. E não se pode juntar todas para não as estragar. Depois de bem secas, separa-as por cores e ficam prontas para serem usadas.

Todos estes processos foi aprendendo ao longo do tempo, desde 2017, e tudo origina peças únicas e nada é desperdiçado. 

«A cápsula de café é o alumínio. Eu aproveito o rebordo para um tipo de colares. Aproveito o corpo da cápsula para fazer outro. Eu depois nunca consigo fazer muita coisa igual. Eu penso numa ideia, faço dois ou três. O quarto ou quinto já vai sair outra coisa diferente», explica Adelaide, com um sorriso.

Além deste material, também é usado, por exemplo, anéis, colares, botões, tudo antigo e pronto para receber uma segunda vida.

«É uma reutilização também dar uma segunda vida aos materiais (…) O principal objetivo também é dar uma segunda vida às cápsulas. Todos nós sabemos que são muito poluidoras e que irão acabar», refere Adelaide.

«Porque há muita coisa que a gente deita para o lixo que, se calhar, pode ser reaproveitada. Se olharmos tudo com outros olhos conseguimos reaproveitar muita coisa», acrescenta.

Para quem quiser ajudar na recolha de cápsulas pode doar, sobretudo as de coleção com cores e trabalhados diferentes.

A vendedora recorda-se dos primeiros trabalhos que fez e que os guarda como lembrança. Na altura que começou também colocava os seus produtos na loja de umas amigas para que pudesse ajudar no negócio. Assim, o negócio foi crescendo até ter o próprio nome de “Jóias da Lai”.

Brincos, colares, presépios, porta-chaves, árvores de Natal e até já chegou a fazer espanta espíritos para encomendas. São tudo produtos que pode achar no seu expositor e que podem ser ideias para um presente ideal. Todos os anos espera-se uma novidade no stock.

«Por exemplo, vou entrar na época de limpeza de cápsulas para depois ter stock para trabalhar e quando acabar a limpeza faço-as. Tudo depende do gosto que tenho, como  venho, às vezes venho muito chateada do centro de saúde, passa-me tudo, esqueço os problemas ao fazer isto», afirma a vendedora.

«Atualmente orgulho-me de ter aumentado os meus expositores e aumentado o meu tipo de trabalho», acrescenta.

Há medida que o tempo passou, foi tendo um logótipo do negócio na toalha da banca, uns cartões, melhorou a imagem do seu produto, sempre manteve os preços dos produtos desde o começo até agora, foi aumentando e melhorando a apresentação dos produtos, e tem orgulho em toda a sua caminhada.

«Enquanto eu não precisar disto para viver, eu gosto de saber que vou vender porque tenho as coisas baratas. Gosto de saber que eu raramente tenho uma feira que venha de lá a zeros e tenho amigas que não vendem nada», afirma.

Adelaide recorda- se que as melhores lembranças são sempre aquelas em que as clientes lhe compram produtos e vêm comprar novamente, reconhecendo o seu trabalho e orgulha-se mais ainda quando sabe que a sua bijuteria vai para o outro lado do mundo, tal como o Canadá.

 Tudo isto para Adelaide é um hobby e um anti stress, mas espera que depois de se reformar continue a ter o «gostinho» de fazer aquilo que mais gosta e que ainda consiga trabalhar nos mercadinhos.

Por fim, Adelaide terminou com uma mensagem para quem quer construir o seu negócio.

«Quando virem que têm potencial de fazerem as coisas diferentes, é irem em frente. Se tem esse potencial e viu a altura certa».

Texto: Cátia Rodrigues


Estrela Do Amanhecer