4-6-2025
O primeiro Centro de Saúde Universitário do país, situado em Loulé, foi inaugurado no sábado, dia 31 de Maio.
O edifício conjuga inovação, conhecimento e serviço público de saúde, e é um espaço de partilha, com várias áreas integradas: é a nova casa da Unidade de Saúde Familiar Lauroé, da Unidade de Cuidados de Saúde na Comunidade Gentes de Loulé e da Unidade de Apoio à Gestão do ACES e Direção dos Cuidados de Saúde Primários da ULS Algarve. Mas o fator diferenciador é mesmo a Unidade Académica de Formação e Investigação em Cuidados de Saúde Primários, com espaços dedicados à formação pré e pós-graduada.
«Este será um centro onde a prática inspira a ciência — e onde a ciência transforma a prática», frisou Rubina Correia, diretora clínica dos cuidados de saúde primários do Algarve, durante a apresentação desta nova unidade.
Com modernas salas de formação, de reuniões, uma sala de videoconferência e gabinetes de consulta para ensino e prática médica em contexto formativo privilegiado, «este Centro foi planeado para integrar o ensino, a prática e a investigação. Permite acolher formações presenciais e à distância, estabelecendo pontes «com a Faculdade de Medicina do Algarve e com as mais prestigiadas escolas de medicina do país e do mundo, facilitando o acesso a professores e investigadores de referência internacional», adiantou Rubina Correia, que considera que irá também «contribuir para a fixação de profissionais qualificados na região». O ABC - Algarve Biomedical Center ficará responsável por este núcleo, sendo esta uma cooperação entre autarquia, Universidade e ULS.
E para reforçar esta vocação de unidade universitária, o autarca de Loulé, Vítor Aleixo, anunciou que o Município irá destinar uma verba anual de 200 mil euros para criar uma Bolsa de Investigação Clínica Aplicada "Saúde em Loulé Aqui e Agora" .
«Os médicos de medicina geral e familiar que trabalham no SNS no concelho de Loulé, e que queiram ligar o seu trabalho no dia a dia à investigação, aproveitando as mais-valias deste Centro de Saúde, poderão contar com este apoio anual», explicou.
«O Ensino Superior e a Saúde caminham lado a lado», sublinhou o reitor da Universidade do Algarve, uma instituição que atualmente já possui 1800 estudantes em diversos cursos na área da saúde e que «pretende chegar aos 3000 estudantes nesta área numa década, desde médicos, enfermeiros, terapeutas da fala, fisioterapeutas e nutricionistas», referiu Paulo Águas.
Em nome da Faculdade de Medicina e do ABC – Algarve Biomedical Center, parceiro fulcral nesta nova unidade, Paulo Castelo Branco, destacou as duas vertentes deste Centro de Saúde.
«A primeira, a melhoria da formação dos médicos, mas também dos enfermeiros e dos auxiliares. Dotar estas pessoas de melhores acessos à informação e à partilha do conhecimento irá melhorar a forma como estes profissionais de saúde executam as suas tarefas no dia a dia, o que terá um impacto nos utentes deste serviço. A segunda, a investigação. A investigação na área da saúde salva vidas!», enfatizou.
E adiantou ainda: «Da nossa parte tudo faremos para tornar este Centro de Saúde numa referência nacional e internacional».
Para o responsável da ULS, Tiago Botelho, este edifício representa «um novo conceito de proximidade entre o ensino, a investigação e a prestação de cuidados de saúde», e vem reforçar «a capacidade de resposta assistencial às populações».
Como tal, anunciou que no concelho de Loulé, a ULS Algarve «está a tomar decisões organizativas que irão permitir atribuir médico de família a mais cerca de 10 mil cidadãos que hoje em dia não o têm, ainda em 2025».
A USF Lauroé, “uma unidade de excelência”, assegura atualmente os cuidados de saúde a 13.448 utentes, número que em breve irá aumentar para 15.250, com a integração de mais um médico e um enfermeiro. Esta unidade inclui também as extensões de Cortelha e Ameixial, é composta por uma equipa de 7 médicos, 7 enfermeiros e 6 assistentes técnicos, contando também com 4 internos de Medicina Geral e Familiar. Os seus indicadores de desempenho nos últimos anos colocam-na no top dos melhores do pais.
Já a outra valência, a UCC Gentes de Loulé, que percorre as nove freguesias do concelho, abrange 71.791 utentes.
Esta unidade apresenta uma das maiores redes de cuidados domiciliários da região, com 4 equipas de cuidados continuados integrados, que acompanham mais de 100 utentes. Neste seu “compromisso com a comunidade”, desenvolve projetos como a preparação para o parto, a intervenção Precoce, Saúde Escolar e Cantinho da Amamentação. Conta com uma equipa multiprofissional de 15 enfermeiros, 2 assistentes técnicos e vários profissionais especializados, como fisioterapeutas, terapeutas, nutricionistas e psicólogos e médico.
O edifício passa a albergar também suporte administrativo e logístico do ACES e das suas unidades funcionais.
Vítor Aleixo recordou o processo que levou a este dia inaugural, «uma história muito longa, de avanços e recuos», que teve início em 2010, com a celebração de um protocolo entre o Município e a antiga ARS para contruir na cidade um novo edifício para a saúde. Mas só em 2020 é introduzida a componente de “Centro Universitário”. O projeto do edifício foi escolhido, após consulta pública de um concurso de ideias.
«É um salto em frente relativamente áquilo que era a abordagem convencional, há aqui inovação, há aqui ambição», salientou o edil. Uma ambição que irá, de resto, “mais à frente” considerando o ecossistema de inovação e de investigação científica na área das ciências biomédicas que está a nascer em Loulé.
Neste momento já funciona em Loulé um Centro de Simulação Cirúrgica, destinado à formação dos médicos, e o primeiro Laboratório de Genética Médica, fundamental no acompanhamento de inúmeras doenças através de análises de genética, entre elas o cancro. Por outro lado, a servir não só o Algarve como o Alentejo, está também a Ressonância Magnética adquirida pela Câmara de Loulé, com o apoio da CCDR. Este equipamento, a funcionar em contentores provisórios junto do Pavilhão, irá relocalizar-se no novo edifício que irá nascer na Rua Humberto Pacheco, em terreno cedido pela autarquia, juntamente a PET-TAC, um equipamento de diagnóstico, e ainda com o Serviço de Procriação Medicamente Assistida, o segundo do país integrado no SNS (apenas existe um no Hospital de S. João do Porto), com diagnóstico genético pré-Implantatório.
«Estamos a construir este ecossistema porque queremos que as pessoas usufruam de mais e melhores cuidados de saúde, acrescendo-se ainda o objetivo de diversificação da base económica do Algarve. Não podemos continuar eternamente amarrados à atividade turística e imobiliária. O Algarve tem todas as condições para atrair jovens investigadores e clínicos, pessoas que querem trabalhar com condições», sublinhou Vítor Aleixo.
É também nesse sentido que surge o investimento público no futuro Edifício Mariano Gago, um equipamento de investigação na área das ciências biomédicas, um investimento que rondará os 30 milhões de euros.
Por outro lado, vai ser adjudicada em reunião camarária desta segunda-feira, o concurso para a recuperação do antigo Centro de Saúde, que agrega a Unidade de Saúde Familiar Serra Mar.
Recorde-se que a construção do Centro de Saúde Universitário de Loulé implicou um investimento de 7,3 milhões de euros, valor repartido pelo Município (65%) e Ministério da Saúde (35%).
Estrela Do Amanhecer