20-3-2025
Rafael Martinho, de 27 anos, veio de Lagos para o mundo da arte para fazer aquilo que mais gostava: ser artista de circo e malabarista. Este dom levou-o à participação no programa Got Talent Portugal, em 2024, para que começasse a ser valorizado, seja por familiares ou pelo público em geral.
Sempre foi um rapaz que acreditou na fantasia e foi por esse caminho que seguiu depois deixar a Casa Pia, em Lisboa, lugar que esteve dos seus 10 aos 18 anos, e continuar a ser um “super-herói”. Uma forma de se continuar a orientar, visto que não tinha mais ninguém com que se agarrar e queria continuar a ser artista.
Aos 18 anos, decidiu viajar pela Europa a pé e divulgar aquilo que sabia fazer melhor. Andou para Sevilha, depois para Cádiz, para Málaga e depois para Granada. Foi para a Inglaterra ver a mãe, esteve em Holanda, veio para Portugal e para a Alemanha.
Tudo uma viagem para aperfeiçoar o processo artístico, para aprender, para conhecer novos artistas que pudessem ensinar e viajar de cidade em cidade.
«Para mim, o melhor artista é aquele consegue trabalhar tanto num palco de circo, como num palco de rua, ou como num anfiteatro», afirma Rafael, ao explicar que o artista que há em si tem que se adaptar, seja em que ambiente, público ou espaço esteja.
Como nunca fez nenhum curso para aprender aquilo que fez por si próprio através de outras pessoas, na rua ou mesmo pelo Youtube, queria poder dizer que era um profissional naquilo que fazia e queria ser reconhecido pelo talento que tinha. Para isso, e para cumprir o seu desejo, inscreveu-se no programa Got Talent Portugal, em 2024.
Fez tudo por si próprio, sem nenhum apoio, até ao final do programa. Ao longo do percurso foi passando, etapa por etapa, teve a ajuda da produção e considerou a sua experiência «cinco estrelas» e «fenomenal.
«Acho que o programa em si é um programa fantástico e merece um bocado mais de mérito, porque há muita descredibilidade no programa», explica o artista.
O programa fez diferença para a vida de Rafael. Apesar de não ter vencido, chegou à final e começou a dar-se melhor com o seu avô, familiar que antes não acreditava no seu potencial e no seu talento. O pai de Rafael também começou a ter o seu orgulho de o ver na televisão.
Além de orgulhar os seus familiares, também tinha como objetivo de inspirar as pessoas que assistiam, viver a experiência, queria mostrar o talento que dizia ter, e fez-o não tanto por ganhar.
«Eu sei que a minha história não é fácil e sei que há pessoas que viram o programa e também não tiveram uma história fácil, que acabaram por se inspirar um bocadinho», conta Rafael.
«A vida não é fácil, mas troféus sem sacrifício não têm honra», acrescenta, acreditando que se lutar, fará diferença.
No início do programa estava nervoso porque tinha milhares de pessoas a assistir. Treinava sempre duas semanas antes de cada prova. A primeira apresentação foi fácil, o segundo não tão bem e por esse motivo que gostaria de lá voltar com uma parceira. Quer voltar a mostrar que é capaz e que tem o seu valor, tal como outra profissão.
«Quero ter uma segunda oportunidade que não tive. (…) Eu vou à final de certeza, porque tenho muitas coisas na cabeça preparadas», revela o artista algarvio.
Tudo isto também para tornar-se uma celebridade em Portugal, fazer associações artísticas, acabar com a corrupção na arte, melhorar as condições dos artistas/ associações e gostava de gerir, pois «num circo, se as coisas correm mal, ninguém diz nada».
Atualmente, o mundo artístico em Portugal não é fácil e não está a ser valorizado, paga-se mal aos artistas, abusam da sua animação pela arte e há quem precise do dinheiro para comer, apesar de fazer a sua profissão com gosto. Muitos dos que seguem a veia artística acabam em depressões e a serem mal compreendidos. No caso de Rafael Martinho, tem conseguido ser muito resiliente, lutador pelos seus objetivos, tem amor pelo que gosta e ainda não desistiu do que quer fazer, apesar de já ter passado por muito, ter vivido na rua e não ter sido valorizado quando devia, e isto era a peça fundamental na entrada do programa- a valorização.
A solução para melhorar esta área, segundo Rafael, é crescer naquilo que se faz, desenvolver e mudar os problemas. Por isso pretende, também, criar uma associação de arte para dar condições aos artistas.
Assim sendo, Rafael afirma não ter pressa para crescer, vai aos poucos e tem que se «tens que gostar daquilo que fazes e tens que acreditar todos os dias que vais fazer coisas novas e sonhar».
Atualmente, Rafael trabalha como malabarista nos semáforos, na estrada de Olhão, com o dever de pintar o dia das pessoas, e trabalha com o fogo. Revela que há dias sem vontade para trabalhar, mas acredita que se não for as pessoas que lá passam vão sentir a sua falta, e acaba por se tornar uma motivação diária para o artista.
«Estou sedento de continuar a fazer aquilo que faço e fazer melhor ainda», diz, «porque se calhar hoje em dia já tenho um certo valor que antes não tinha», acrescenta.
A realidade é que o programa mudou a sua vida.
Recorda-se que o seu melhor momento foi gerir a ideia que ninguém pode despedir dos seus sonhos e o seu pior momento foi “quando lhe perguntaram o que queria dizer lá para casa?” e respondeu que «isto era para todos aqueles que foram abandonados e todos aqueles que me abandonaram, para provar que não deviam ter abandonado».
A sua maior inspiração foi e continua a ser um menino, o Marlon, que tem cancro, que sai da quimioterapia e vai se “empoleirar” de cabeça para baixo nuns balões, sendo o palhaço de circo que gosta de ser e continua a sê-lo sem desculpas.
Por isso, Rafael deixa a mensagem para aqueles que querem ser artistas, mas ainda não conseguiram.
«Não desistas, treina todos os dias. O que os outros dizem ou o que os outros olham não interessa. Se tu és um artista e estás num palco, tens que de chamar a atenção e tens que saber fazer um show-off de forma correta. Tens que aprender a cair», revela Rafael, sobre como ser um malabarista ou para quem quer estar no mundo da arte.
Texto: Cátia Rodrigues
Fotos: Rafael Martinho
Estrela Do Amanhecer